A História Secreta da Humanidade

E se a nossa história for mais antiga do que nos ensinam?
Em “A História Secreta da Humanidade”, Michael A. Cremo leva-nos pela mão numa fantástica viagem de evidências que nos fazem recuar milhões de anos de existência humana.

Abaixo um trecho onde menciona o nosso Carlos Ribeiro e as suas descobertas:

As Descobertas de Carlos Ribeiro em Portugal

Foi bem por acaso que chegou à nossa atenção a primeira alusão às descobertas
de Carlos Ribeiro.

Examinando os escritos de J. D. Whitney, geólogo norte americano do século XIX, nos deparamos com uma frase ou duas a respeito do fato de Ribeiro ter descoberto instrumentos de pederneira em formações do Mioceno perto de Lisboa, Portugal.

Encontramos outras menções breves nas obras de S. Laing, popular escritor
científico de fins do século XIX na Inglaterra. Curiosos, percorremos algumas
bibliotecas, mas sem encontrar obra alguma de autoria de Ribeiro, e nos vimos
num beco sem saída. Um pouco mais tarde, o nome de Ribeiro surgiu de novo,
dessa vez na edição inglesa de 1957 de Fossil men, de Boule e Vallois, os quais
descartaram, de forma um tanto lacônica, a obra do geólogo português do século
XIX. Por intermédio de Boule e Vallois, contudo, ficamos conhecendo a edição de
1883 de Le Préhistorique, de Gabriel de Mortillet, que fez, em francês, um registro
favorável das descobertas de Ribeiro. Compilando as referências mencionadas nas
notas de pé de página de Mortillet, aos poucos revelou-se-nos uma abundância de
relatórios originais notavelmente convincentes em jornais franceses de
arqueologia e antropologia do último quarto do século XIX.

A busca dessas provas enterradas foi muito esclarecedora, demonstrando como a
instituição científica trata relatórios de fatos que já não se adequem mais aos
pontos de vista aceitos. Não esqueça que, para a maioria dos atuais estudantes de
paleantropologia, Ribeiro e suas descobertas simplesmente não existem. E preciso
recorrer a livros didáticos impressos há mais de trinta anos para encontrar uma
solitária menção a ele.

Em 1857, Carlos Ribeiro foi nomeado diretor do Instituto de Pesquisas Geológicas
de Portugal, e no mesmo ano também seria eleito presidente da Academia
Portuguesa de Ciências. Durante os anos 1860-1863, ele realizou estudos de
instrumentos de pedra encontrados em estratos quaternários de Portugal. Em
geral, os geólogos do século XIX dividiam os períodos geológicos em quatro grupos
principais: o primário, abrangendo do período Pré-cambriano até o Permiano; o
secundário, abrangendo do período Triássico até o Cretáceo; o terciário,
abrangendo do Paleoceno até o Plioceno; e o quaternário, abrangendo do
Pleistoceno até os períodos recentes. No transcurso de suas investigações, Ribeiro
ficou sabendo que andavam encontrando pederneiras que apresentavam sinais de
obra humana em estratos terciários entre Canergado e Alemquer, dois povoados
na bacia do rio Tejo a nordeste de Lisboa.

De imediato, Ribeiro começou suas próprias investigações e, em muitas
localidades, encontrou lascas de pederneira e quartzito trabalhados em estratos
terciários. Ribeiro sentiu, porém, que precisava participar ao dogma científico
dominante, o mesmo de hoje, o fato de que os seres humanos não eram mais
antigos do que o quaternário.

Em 1866, nos mapas geológicos oficiais de Portugal, Ribeiro relutantemente
atribuiu idades quaternárias a alguns dos estratos com ocorrência de instrumentos.
Ao ver os mapas, o geólogo francês Edouard de Verneuil discordou do julgamento

de Ribeiro, chamando a atenção para o fato de que os chamados estratos
quaternários eram com certeza do Plioceno ou do Mioceno. Enquanto isso, na
França, o abade Louis Bourgeois, um respeitável investigador, relatara ter

encontrado instrumentos de pedra em estratos terciários. Influenciado pela crítica
de Verneuil e pelas descobertas de Bourgeois, Ribeiro passou a registrar
abertamente que estavam encontrando instrumentos humanos em formações do
Plioceno e do Mioceno em Portugal.

Em 1871, perante a Academia Portuguesa de Ciências em Lisboa, Ribeiro
apresentou uma coleção de instrumentos de pederneira e quartzito, incluindo
alguns recolhidos das formações terciárias do vale do Tejo. Em 1872, no
Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-históricas reunido em
Bruxelas, Ribeiro apresentou mais espécimes, a maioria làscas pontudas. A opinião
científica ficou dividida.

Na Exposição de Paris de 1878, Ribeiro apresentou 95 espécimes de ferramentas
de pederneira terciárias. Gabriel de Mortillet, o influente antropólogo francês,
visitou a exposição de Ribeiro e declarou que 22 espécimes tinham sinai
inequívocos de obra humana. Com seu amigo e colega Emile Cartailhac, Mortillet
trouxe outros cientistas para ver os espécimes de Ribeiro, e todos foram da
mesma opinião – boa quantidade das pederneiras fora indiscutivelmente feita por
humanos.

Mortillet escreveu: “A obra intencional fica muito bem demonstrada, não apenas
pela forma em geral, que pode ser enganosa, como também muito mais
conclusivamente pela presença de plataformas de golpe evidentes e de bulbos de
percussão fortemente desenvolvidos”. Os bulbos de percussão também tinham, às
vezes, pequenas lascas removidas pela força do impacto. Alguns dos espécimes
de Ribeiro também tinham diversas lascas compridas e verticais removidas em
paralelo, algo que não é provável de ocorrer durante a danificação aleatória
causada pelas forças da natureza.

Leland W. Patterson, moderno perito em ferramentas de pedra, é de opinião que o
bulbo de percussão é o sinal mais importante de obra intencional numa lasca de
pederneira. Se a lasca também apresenta os restos de uma plataforma de
golpeamento, pode-se, então, ter mais certeza de estar diante de uma lasca tirada
deliberadamente de um núcleo de pederneira, e não de um pedaço de pederneira
quebrada naturalmente e que se assemelhe a uma ferramenta ou uma arma.

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